Maria Inês Almeida e Inês Costa
Estou bem, e tu? – Perguntou Teseus.
Também, mas muito preocupado com o Fobos – Respondi.
A conversa terminou ali, porque recebi um telefonema do meu pai, para ir para casa.
No dia seguinte, acordei cheio de energia nem sabia bem porquê, mas havia algo que me inquietava. Enquanto tomava o pequeno-almoço, lembrei-me da razão do meu desassossego: Fobos! O miúdo que sofre de bullying.
- Tenho que fazer qualquer coisa! Não posso esperar pelo Teseus.
No intervalo da primeira aula, fui ter com o brutamontes e sem pensar empurreio-o, deixando toda gente a rir. Ele levantou-se bastante irritado pela humilhação e veio em direção a mim para se vingar. Empurrou-me com tanta força que caí no chão sobre o meu braço esquerdo. Dei um grito que se deve ter ouvido na cidade inteira! Um auxiliar da escola ouviu e de imediato veio a correr, tendo depois chamado uma ambulância.
Quando cheguei ao hospital, fiz um raio-X e os médicos perceberam que tinha partido o braço. É uma recuperação lenta! Por isso, para acelerar o processo, os médicos sugeriam que ficasse internado uma semana no hospital. Uma semana? A Sério? Não pode ser, recuso--me!
Os meus colegas, depois das aulas, vinham à vez visitar-me ao hospital. Quando chegou a vez do Narciso, este palerma tirou-me uma foto e publicou nas redes sociais. Quando todos os colegas viram a foto fui gozado como nunca! Apenas Fobos, não se manifestou e ficou calado. Ele foi o último colega a visitar-me no hospital. Conversámos e pedi-lhe ajuda para puder fugir. Fobos hesitou, mas acabou por aceitar. Afinal, eu também o ajudei! Combinámos encontrar-nos às três da manhã.
Fobos, quando me visitou durante a tarde, e depois de termos combinado encontro de madrugada, viu no corredor o mapa das tubagens do velho hospital e percebeu que era perfeito para o plano de fuga, tendo tirado foto com o seu telemóvel.
Assim que nos encontrámos, analisámos o mapa e percebemos que havia uma grelha na parede do quarto, por trás de um armário. Era perfeita! Quando entrámos na grelha estava muito escuro e acendemos a lanterna do telefone de Fobos. Deparámo-nos com muitas teias de aranha (até mesmo aranhas, muitas aranhas), mas destemidos que somos, não vimos aí qualquer problema. Mas tivemos um grande azar!
- Ficou escuro, que se passa Fobos?
- Bolas! Fiquei sem bateria no telemóvel! – Respondeu Fobos irritado.
- Não acredito! Com a pressa, deixei o meu no quarto! Bonito! Agora nem luz nem mapa!
Fomos andando às escuras até que finalmente encontrámos uma grelha de saída aberta, mas estava lá um segurança do hospital. Ele apercebeu-se de barulho, vindo da
grelha, mas pensou que seriam só ratos, e tentou afugentá-los com uma vassoura. Continuámos a rastejar mas depressa percebemos que não valia a pena continuar.
Já eram seis da manhã e já tinha os olhos em lágrimas, da dor tremenda que tinha no meu braço. Por sorte, vimos uns ratos que pareciam saber bem o caminho. Parece uma cena tirada de um filme, mas sim, seguimos os ratos que nos levaram até outra saída. A saída era era muito apertada e Fobos, que era um pouco cheiinho, ficou preso na saída. Ao fim de algum tempo, mesmo só com um braço, lá o consegui puxar, e corremos em direção à escola, que ficava perto do hospital.
Como era cedo e a escola estava fechada, fomos ao café que ficava do outro lado da rua. O café também estava fechado, mas a D.ª Joaquina, que chega sempre mais cedo para receber o pão fresco, viu-nos à porta e perguntou-nos:
- O que vocês estão aqui a fazer a esta hora? É muito cedo!
Ficámos calados. A D.ª Joaquina, com pena, percebeu que estávamos cansados e famintos e deu-nos pão com queijo e um sumo de laranja acabado de fazer. Soube-nos mesmo bem!
Depois de matarmos a fome, agradeci à senhora e perguntei-lhe:
- Se lhe contarmos uma coisa, promete que não conta a ninguém?
- Claro! - Disse a D.ª Joaquina sem hesitar. Afinal, a senhora conhece-me desde sempre.
Contei a história toda, deixando a D.ª Joaquina de boca aberta.
- Sabem que isso não se faz! Os vossos pais devem estar preocupadíssimos! – Repreendendo-os.
Fomos embora um pouco envergonhados em direção ao parque. Quando chegámos ao parque, esconde-mo-nos atrás de árvore enorme, atentos para garantir que ninguém nos via.
Entretanto, o meu pai foi visitar-me ao hospital e já não me encontrou. Desesperado, chamou uma enfermeira que avisou de imediato a diretora do hospital. O meu pai ainda me tentou telefonar mas depressa percebeu que o telemóvel estava no quarto. A certa altura estavam seis enfermeiras à minha procura! Como ninguém me encontrou, procuraram-me por toda a cidade. Assim que percebemos que já nos procuravam, esconde-mo-nos novamente. Fobos aflito perguntou:
- E agora, o que fazemos?
- Não sei, mas fica calado! – Disse-lhe meio assustado.
Decidimos entretanto entrar na escola. Quando chegámos, fomos para trás de um arbusto muito grande perto do campo de futebol. Mas aquele arbusto tinha picos.
- Au! Estou todo arranhado! Não podias ter escolhido outro sítio? – Disse Fobos chateado.
- Precisamos de ajuda! – Concluí.
- Mas e se contam à diretora da escola? – Perguntou Fobos preocupado.
- Acho que sei quem nos pode ajudar! Vou explicar-te a minha ideia.
Fobos, pasmado com a minha ideia (sim, era arriscada), pensou em desistir e contar a toda a gente o que se tinha passado.